Dedicado a M., o rapaz de Praga (e também a M., especialista e especializada na arte de ser especial)
M. comparava-me sempre à Amélie Poulain. Eu dizia-lhe: - M., eu não sou uma personagem, sou real.
Mas percebia. Acho que tem a ver com uma certa forma de pureza, de inocência.
Tem a ver com estar atenta aos sinais mágicos da vida, a pequenas coisas de que mais ninguém se apercebe. E acreditar no sonho.
Quando vi aquele filme quase me assustei, como se me visse ao espelho. O mesmo nariz arrebitado, o mesmo olhar sequioso de surpresa:
- M., eu sempre acreditei em magia.
Ser especial é apenas olhar profundamente, com atenção.
Toda a minha vida treinei este olhar, para ser capaz de ver para além das evidências.
Por onde andará M. agora? Às vezes parece que ninguém diz nada de verdadeiro, nada que me toque realmente, e todas as tuas palavras eram concretas e necessárias. Em francês, com sotaque da Boémia. Fazes-me falta.
Ana Esperta