Thursday, December 22, 2005

Dedicado a M., o rapaz de Praga (e também a M., especialista e especializada na arte de ser especial)

M. comparava-me sempre à Amélie Poulain. Eu dizia-lhe: - M., eu não sou uma personagem, sou real.
Mas percebia. Acho que tem a ver com uma certa forma de pureza, de inocência.
Tem a ver com estar atenta aos sinais mágicos da vida, a pequenas coisas de que mais ninguém se apercebe. E acreditar no sonho.
Quando vi aquele filme quase me assustei, como se me visse ao espelho. O mesmo nariz arrebitado, o mesmo olhar sequioso de surpresa:
- M., eu sempre acreditei em magia.
Ser especial é apenas olhar profundamente, com atenção.
Toda a minha vida treinei este olhar, para ser capaz de ver para além das evidências.
Por onde andará M. agora? Às vezes parece que ninguém diz nada de verdadeiro, nada que me toque realmente, e todas as tuas palavras eram concretas e necessárias. Em francês, com sotaque da Boémia. Fazes-me falta.
Ana Esperta

Wednesday, December 21, 2005

O ambiente cá na secção é demais.
Costumo dizer que somos todos malucos, e passo o dia a rir até às lágrimas.
O Mendes, que é o mais bem apanhado de nós todos, não me pode ver comer uma banana que já sei que tem de dizer: - Gostas de bananas? Ai gostas de bananas?
E eu desato logo a rir. Com a salada de tomate é o mesmo, ou com o arroz de grelos.
Ainda ontem fizemos o nosso almoço de Natal e o restaurante ficou todo a olhar para nós. Na parte do sorteio das prendas eu já não aguentava de tanto rir, nem conseguia rasgar o papel de embrulho do guarda-jóias que me saiu. Eu tinha o número 5 - era o presente que a Leninha comprou - e o Silva (que ganhou o concurso inter-repartições "carimbador mais rápido 1978") só dizia "tás nervosa, ai tás nervosa" e aquilo só me fazia rir ainda mais.
Sempre que vou à sala do Augusto pedir o furador ele pergunta-me: - Gostas de furar?
Agora já sei e faço um ar malandro antes de pedir...
Por tudo isto, pela vossa boa disposição, uma grande beijoca de Feliz Natal ao Mendes, ao Silva, ao Augusto, à Helena, Cilinha, Rosa e Paula Cristina!

Ana Burra

Lembrei-me de Lazlo Cestzo, o autor checo de que Milan me falava em Paris, nas manhãs de sábado. Aquela frase sobre Praga: "percorri o mundo, mas uma parte de mim permaneceu para sempre na cidade mágica, e fui estranho, distraído, ausente, e não participei completamente na minha vida".
Lazlo Cestzo, que sempre me lembrou Pessoa.
Hoje misturei Praga e Lisboa na minha cabeça, enquanto observava as prateleiras do Celeiro, decidida a reorganizar a despensa. Trouxe arroz integral, tofú, algas e aquelas bolachas que adoro, de seitan. Já em casa, sentei-me no sofá, com os gatos, queimei um pauzinho de incenso e tentei meditar.
Tenho-me distanciado tanto do meu "eu interior"; é urgente regressar a mim. Preciso de serenidade, de voltar a fazer yoga.
E então tive a melhor ideia dos últimos tempos: combinar uma sessão de slides cá em casa, sexta-feira.
Imagens de Praga e poemas de Lazlo Cestzo. O mundo divide-se entre viajantes e turistas e eu faço parte dos primeiros, por vocação.
Ana Esperta

Tuesday, December 20, 2005

"Toda a nossa vida só conversámos silêncios"
Jean Baptiste Dieu

A tradução desta frase é minha. Jean Dieu é um escritor francês que talvez fizesse falta ver traduzido em Portugal, é um dos meus preferidos.
Hoje acordei a pensar na frase, a pensar que talvez seja isto mesmo. Sinto-me vazia. Chove lá fora. Olho para o teclado e não me ocorre nada. Tenho saudades daquelas manhãs de Outono, em Veneza ou em Roma, quando, em frente a uma chávena de café, tudo ficava de repente no sítio certo. Tenho saudades de Roma. Tenho saudades de mim. Agora já não me chamas a tua "menina das estrelas", por isso resta-me a chuva lá fora e este livro.
Ana Esperta
(jean dieu tem um livro, "A chuva" - que quando tiver tempo hei-de colocar aqui em francês - em que chove em todos os capítulos; aquilo a que os críticos justamente chamam "os cenários de água de jean baptiste dieu")

Hoje quero falar-vos da minha malta amiga. É que eu adoro-os. São quase tudo para mim. Podia dizer-vos que um se chama Fernando, o outro Miguel ou a grande Filomena. Mas isso não interessa nada. Os nomes não interessam mas sim o espírito de camaradagem, de família que existe entre nós. Somos todos iguais, com os mesmos direitos e quando alguém traz um amigo, passa a fazer logo parte da malta amiga. Nós somos assim. Como diz o grande Jorge Palma “há sempre lugar para mais alguém”.
Mas isto não nasce com a pessoa. Conquista-se. Nós passámos por muitas coisas juntos. Fomos revolucionários antes da revolução, gritámos contra tudo e todos, sempre juntos. Sofremos e divertimo-nos como poucos, sempre juntos. Passámos por grandes loucuras, quebrámos regras e tabus, sempre juntos. Eu e a minha malta. Amiga.
Um já partiu. Achava que não havia lugar para ele neste mundo. Olho para o puto que ele deixou e sinto a obrigação de lhe transmitir o espírito da malta amiga. É o que faço com os meus filhos. Não sei se será a mesma coisa. Quando a Becas diz “a malta amiga” não a sinto vibrar como eu, mas o espírito de camaradagem está lá, do grupo ser mais importante do que ela. É o que deixo para o futuro.
Acabo com uma canção que ainda hoje me faz vibrar : “Amigo, mais forte que o pensamento, por essa estrada, Amigo vem. E traz um Amigo também”. Para os miúdos que me estarão a ler, é só para dizer que é a minha preferida do grande Zeca.
Ana Burra

Monday, December 19, 2005

Acho de muito mau gosto o poste que li num blogue (nem vou mencionar) a gozar com os casais amigos. Só goza assim quem os não tem! Eu, por acaso, tenho muitos e confesso que é do melhor que há. É um conforto para a vida. Primeiro porque quem vive em casal, claro que gosta de estar com outros casais, para além da família, é claro! Porque assim não há situações estranhas...Como o casal que vai com a Amiga, que depois vai lançando uns olhares ao marido e sabe-se lá que mais! Ou o contrário...Eu já experimentei sair com o meu marido e uma amiga e foi uma ansiedade tal que não me diverti nada! Nunca mais a vi, tirando umas duas vezes que fomos sozinhas às compras. A parte má é que eu até simpatizava com ela, e tenho coração, mas a vida é assim! Ela tem de arranjar marido ou namorado para voltar a sair connosco!
O casal amigo também é giro, porque fazemos o que gostamos sem ter de estar sempre com o marido, mas ele está ao nosso lado. Por exemplo, quando a Alda e o Zé vêm lá a casa, eu vou com a Alda para a cozinha, trocamos receitas, falamos das nossas coisas, é só rir! Enquanto que o meu Paulo e o Zé vêem a bola, bebem, dizem asneiras, que são coisas que eu não gosto! Mas ao menos sei que ele está sossegadinho na sala, sem que eu tenha de me preocupar por onde ele anda e especialmente com quem...
Por isso, acho que a tal senhora deve ser solteira! Porque só uma pessoa assim não vê a vantagem de ter casais amigos!

Ana Burra